Se sofre de enxaqueca ou cefaleias em salva, provavelmente já deve ter sentido que os outros desvalorizam o seu sofrimento, ao ponto de lhe dizerem que se trata de “uma simples dor de cabeça”. Isto revela o desconhecimento que ainda existe sobre estas doenças neurológicas incapacitantes, com fortes implicações na vida pessoal e profissional. Saiba como lidar com a entidade patronal e como pode justificar as suas faltas laborais!

Caracterizada por crises recorrentes de dor de cabeça moderada a grave, geralmente pulsátil e unilateral, a enxaqueca é também associada a náuseas, vómitos e sensibilidade à luz, ao som e aos odores. Em alguns casos, os sintomas podem ser mais complexos, incluindo formigueiros ou dormências, dificuldade em falar, visão turva ou paralisia passageiras dos membros de um dos lados do corpo.
Já as cefaleias em salva caraterizam-se por uma dor intensa de um dos lados da cabeça, localizada na têmpora ou ao redor do olho, que dura pouco tempo (geralmente de 30 minutos até uma hora) e que pode acompanhar-se de lacrimejo, queda da pálpebra superior, olho vermelho, pupila pequena e rinorreia (pingo pelo nariz). As dores ocorrem regulamente durante um período de um a três meses, seguido de um período livre de dor que pode ser de meses até anos.
Contudo, as cefaleias são constantemente menorizadas, o que torna difícil para quem sofre desta doença justificar a necessidade de faltar ao trabalho ou adaptar as suas tarefas nos momentos das crises mais agudas.

50% das pessoas com enxaqueca faltam ao trabalho cerca de 4 dias por mês

Esta realidade foi confirmada no estudo My Migraine Voice, promovido pela European Migraine e Headache Alliance, que em 2018 avaliou o impacto da enxaqueca no trabalho com uma amostra de mais de 11 mil doentes, de 31 países diferentes, com mais de quatro dias de enxaqueca por mês e que já falharam pelo menos uma terapêutica de prevenção. Foram tidas em consideração a redução da produtividade e as horas perdidas (absentismo) devido à doença.
De acordo com os resultados, as pessoas que sofrem de enxaqueca e que trabalham durante as crises vêm a sua produtividade reduzida em mais de metade (53%) e metade dos inquiridos dizem ter faltado ao trabalho cerca de 4 dias por mês devido à doença.
Segundo este estudo, a maioria dos empregadores (63%) têm conhecimento da condição dos empregados. Contudo, apenas 18% ofereceram apoio.
Quando faltam ao trabalho, muitos doentes afirmaram “sentir-se julgados, estigmatizados ou incompreendidos”, ilustrando assim a necessidade de sensibilização das entidades empregadoras.
Já os dados nacionais revelam que cerca metade dos portugueses com enxaqueca (51,6%) declararam que os seus empregadores estão cientes do seu problema, contudo, foram apenas 11,8% os que ofereceram algum apoio. A maioria dos doentes (81,0%) sentem que a enxaqueca teve impacto na sua vida profissional, com 68,2% a referir que não se conseguem concentrar no trabalho. No geral, metade (49,5%) tiveram de faltar ao trabalho em média 3,8 dias, devido à enxaqueca.

Avise sobre a sua ausência assim que possível e justifique a falta

Se faltar ao trabalho, mas não for ao médico, nem entrar numa situação de baixa por não se tratar de uma ausência prolongada, poderá vir a ter problemas com a entidade patronal.
É claro que dependerá da relação de confiança que mantenha com a sua empresa, pois se há empresas que dispensam o comprovativo médico, há outras que só justificam a falta mediante a sua apresentação.
Se for este o caso, para justificar a ausência deverá ir a uma consulta (assim que conseguir) ou chamar um médico ao domicílio para obter uma declaração médica que comprove a situação de doença. Seja qual for a opção, nunca se esqueça de avisar sobre a sua ausência assim que possível.
O seu neurologista pode também ser uma peça importante neste processo. Pode pedir que lhe seja passado um relatório sobre o seu caso, onde estão descritos os seus sintomas, as características da dor, as condutas que devem ser adotadas, os medicamentos prescritos, entre outros aspetos, e entregar o documento à sua empresa. Este não serve em termos legais como justificativo de falta por si só, mas pode ajudar a que a empresa perceba melhor a sua situação clínica.
Saiba ainda que de acordo com o Código do Trabalho, os dias de ausência ao serviço por doença são descontados no vencimento e pagos através do subsídio de doença (quando superior a três dias e sempre mediante apresentação de baixa médica) pela Segurança Social, pois só no caso de faltas para assistência a filhos ou netos não se perde o direito à retribuição.
Se precisar de apresentar baixa médica, o valor a receber depende do período de tempo durante o qual esta dure, podendo variar entre os 55% (até 30 dias) e os 75% da remuneração base.

Fontes:
https://www.deco.proteste.pt/dinheiro/emprego/dicas/direitos-dos-trabalhadores-nas-ferias-e-faltas
https://www.e-konomista.pt/baixa-medica/

https://www.migrainetrust.org/wp-content/uploads/2019/06/The-Migraine-Trust-Help-at-work.pdf
https://www.webmd.com/migraines-headaches/features/migraines-and-work#4
https://www.valueinhealthjournal.com/article/S1098-3015(18)35407-X/fulltext
http://www.cefaleias-spc.com/comunidade/abc/