Cristina Guia, enfermeira há quase 20 anos, partilha a sua história de dor, tonturas, desequilíbrios, alterações visuais. Travou a fundo, olhou para dentro. O seu testemunho numa altura em que um vírus vira a vida do avesso.

As crises de enxaquecas entraram-lhe pela vida adentro sem aviso e sem recado, sem qualquer licença, quando ainda era adolescente. Tinha períodos de dores intensas. O corpo exigia-lhe descanso e a cabeça pedia-lhe para desligar do mundo exterior. Esse mal-estar nunca a largou. Cristina Guia tem 42 anos, é de Viana do Castelo, enfermeira nas urgências do hospital da cidade, mãe de duas crianças pequenas. Habituou-se a viver com enxaqueca e conta quão difícil foi e é. “Quem sofre deste problema habitua-se a viver ou a sobreviver com esta dor. Faz parte da minha vida”, refere.

Há dois anos e meio, a sua situação de saúde agravou-se. “Em outubro de 2018, iniciei uma sintomatologia muito específica”, recorda. Dores, tonturas, algum desequilíbrio, alterações visuais – como se pessoas e objetos, de repente, tivessem uma aura à volta. Não era aquela enxaqueca do costume, os sinais davam-lhe indicações de que era um problema mais agudo.

Um certo dia, dia de trabalho, sentiu que havia alguma coisa estranha nas luzes do serviço de urgência do hospital. “Decidi ir à casa de banho para regular-me, controlar-me. Fiquei assustada e pedi ajuda. Olhei para o espelho e não conseguia ver uma parte de mim”, lembra. Disseram-lhe que tinha de descansar, eram muitos dias, muitas horas, a trabalhar para compensar ausências. Noutro dia, quando regressava a casa, sentiu uma sensação de desequilíbrio enquanto conduzia. Os conselhos não tardaram: terapêutica zero, mudar de vida ontem.

Os sintomas não a largavam, consultas em várias especialidades, neurologia, oftalmologia, otorrino. Conversas, exames, uma suspeita de doença neurodegenerativa, e o diagnóstico chegou no início deste ano. Enxaqueca vestibular. Teve de parar, repensar a sua vida de trabalho por turnos, horários rotativos, pouco descanso. Mudou, entretanto, de serviço para uma unidade de dia polivalente que trata de doentes oncológicos e crónicos.

Dor, intolerância à luz, tonturas, náuseas. “Era o meu corpo a cobrar o sono em débito.” “Ainda continuo com muita desta sintomatologia”, garante. Hoje toma três comprimidos por dia e, volta e meia, faz fisioterapia. “A tensão muscular que a dor provoca também gera contraturas de forma crónica”, revela. Experimentou acupuntura.

Cristina Guia travou a fundo. “Vivia muito em modo automático. Esta situação fez-me repensar, fiz uma pausa na minha vida, nos meus hábitos, percebi que tinha de investir no autoconhecimento, no autocontrolo.” Enfermeira, há quase 20 anos a cuidar de doentes, compreende as queixas de dor, do que vai e regressa e que nunca vai embora. O que sente na pele ajuda-a a compreendê-los melhor.

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